Começaremos a nossa webaula, conhecendo as diferenças culturais na interação em Libras. Na sequência, estudaremos a apresentação pessoal e manifestações artísticas e culturais em Libras;
A vivência a partir de experiências visuais de mundo propicia aos surdos não apenas a construção da identidade surda, desenvolvida pelo sentimento de pertencimento ao grupo de pessoas surdas, mas possibilita ainda, a existência
da cultura surda.
A interação em Libras com pessoas surdas é marcada por características próprias, desde a abordagem até o estabelecimento das trocas comunicativas. A abordagem de um sujeito surdo não se dará chamando-o (oralmente) pelo
seu nome, como é habitual entre os ouvintes, pois a sonoridade do nome de uma pessoa surda profunda não tem significado e não será percebida por ela.
Para situações em que se deseja chamar a atenção de um surdo que esteja a uma curta distância e com o qual você deseja iniciar um diálogo, Choi et al. (2011) descrevem ser comum o uso do toque no braço ou antebraço do interlocutor,
pois entre eles não há restrições a esse tipo de contato físico.
Por outro lado, se o surdo estiver a uma distância considerável, outras formas de abordá-lo são o aceno do braço ou mão dentro de seu campo visual. Também é comum que se pise fortemente no chão (buscando causar uma vibração)
ou se acenda e apague a luz.
Quadros e Pimenta (2008) e Choi et al. (2011) destacam que a apresentação pessoal dos surdos segue uma dinâmica diferente dos ouvintes. Segundo os autores, ao invés do aperto de mão, beijos na face e perguntas genéricas como o
tempo ou a profissão, os surdos buscam, na apresentação pessoal, confirmar se o outro é surdo ou ouvinte, se tem marido e/ou um familiar surdo, como e por que aprendeu a Libras.
Na cultura surda, o nome tem relevância secundária, pois a forma como os sujeitos se identificam está baseada no sinal pessoal de cada um. De acordo com Quadros e Pimenta (2008), o batismo do sinal pessoal ocorre quando
um surdo ou ouvinte é apresentado ou passa a ter contato com as comunidades surdas.
O sinal deve ser sempre atribuído por uma pessoa ou grupo de pessoas surdas e, conforme Choi et al. (2011), pode ser feito com referência à aparência física da pessoa (por exemplo, altura, cabelo, rosto, olhos, bochechas, etc.),
ao uso constante de objetos (por exemplo, um brinco, colar, pulseira, óculos, microfone etc.), ao comportamento constante (por exemplo, mexer no cabelo, sorrir, ruborizar, apoiar a cabeça com o dedo etc.) ou ao que a pessoa
gosta de fazer, comer, beber etc.
Outra característica das comunicações estabelecidas em Libras é a possibilidade de conversas entrecruzadas, ou seja, desde que haja um campo visual limpo para que um interlocutor enxergue o outro, é possível estabelecer
diálogos a distâncias razoáveis em grandes rodas de conversas entre surdos, em que assuntos diferentes podem ser debatidos simultaneamente sem que uma conversa atrapalhe a do outro.
Para garantir um espaço de trocas em Libras, os surdos, convencionalmente, estabelecem alguns pontos de encontro, que podem ser associações ou federações de surdos, terminais rodoviários, shopping, escolas etc.
As manifestações culturais, segundo autores como Quadros e Pimenta (2008) e Choi et al. (2011), podem ser vislumbradas através da interação, das expressões artísticas e do uso de tecnologias diferenciadas na rotina diária das pessoas
surdas.
Dentre as manifestações artísticas e culturais, Choi et al. (2011) destacam a literatura surda que deriva em gêneros diversificados tais como a poesia, as histórias, as piadas, a literatura infantil, fábulas, contos, lendas etc.,
que veremos melhor a seguir:
Os autores afirmam que essa literatura, geralmente, remete às experiências e histórias de lutas e conquistas das comunidades surdas, bem como de líderes e militantes que são lembrados por sua grande representatividade e contribuições.
De fato, as tecnologias se tornaram parte fundamental da vida das pessoas surdas, sobretudo no que se refere a facilitar a rotina e acessibilidade. Nas residências e escolas para surdos, por exemplo, ao invés da campainha sonora
é possível substituir por campainhas luminosas cujo alerta aciona uma luz posicionada em diferentes pontos de fácil percepção (da casa ou da instituição escolar).
Mesmo o uso do telefone pode ser adaptado para surdos com o toque luminoso ou os celulares com os quais os surdos podem estabelecer conversas em vídeo (quando houver acesso à Internet) ou mensagens de texto.
Portanto, para finalizar esta webaula, é possível perceber que a cultura surda administra grande ênfase à diferença social do sujeito surdo, ou seja, dentro dessa perspectiva não há vergonha da surdez, e sim orgulho
de ter um grupo organizado e culturalmente rico, cuja identidade, língua e cultura os une.