Material produzido para cursos de Pós-Graduação da Kroton Educacional:
CARDOSO, Ana Lucia. Sistemas Adaptativos, Ensino Híbrido e Metodologias Ativas. Valinhos: Kroton Educacional, Diretoria Acadêmica de Educação Continuada, 2017.
As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) impactaram a educação e abriram as portas para novas formas de ensinar e aprender. O paradigma linear com o processo de ensino-aprendizagem centrado no professor foi alterado para o paradigma
emergente com o pensamento em rede e o aluno como protagonista de sua aprendizagem.
As TICs possibilitaram inovação educacional e atividades de ensino-aprendizagem on-line na modalidade a distância mescladas com o ensino presencial. Essa “mistura” recebe o nome de Blended Learning (blended, em inglês,
significa misturado, mesclado), cuja tradução para o português é Ensino Híbrido.
Atividades presenciais
Atividades on-line
A proposta de Ensino Híbrido tem sido adotada em instituições de Ensino Superior e na Educação Básica em vários países do mundo, inclusive no Brasil. Os diversos modelos e possibilidades de hibridizar a educação têm como finalidade personalizar
a aprendizagem do educando, criando ambientes favoráveis ao seu desenvolvimento, inserindo as tecnologias de forma integrada ao currículo e possibilitando uma aprendizagem pela exploração e descoberta.
Com os modelos de Ensino Híbrido, o processo educacional torna-se inovador, dialogando com as propostas educacionais do nosso século.
O conceito de Blended Learning ou Ensino Híbrido surgiu inicialmente nos EUA na década de 1990, mas as universidades começaram a financiar os estudos e projetos acadêmicos com base científica a partir de 2002.
O ensino híbrido é um programa de educação formal no qual um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino online, com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo, e pelo menos em parte em uma localidade física supervisionada, fora de sua residência.
Fundado a partir das teorias de um professor de Harvard, o Clayton Christensen Institute implementou modelos inovadores de Ensino Híbrido em escolas americanas, partindo de estudos e pesquisas que abordavam uma nova forma de fazer educação.
Em 2008, Michael Horn escreveu em parceria com Clayton Christensen, seu professor em Harvard, o livro Disrupting class: how disruptive innovation will change the way the world learns (Classe disruptiva: como a inovação disruptiva vai mudar a forma como o mundo aprende,
em livre tradução), no qual abordou o nascimento de uma nova forma de fazer educação. Horn tornou-se cofundador do Innosight Institute, que em 2013 passou a se chamar Clayton Christensen Institute.
No Brasil, a passagem da modalidade presencial para a modalidade a distância e, depois, para o Ensino Híbrido foi possível no Ensino Superior a partir da Portaria nº 4.059/2004 do Ministério da Educação (MEC), que autorizou as instituições
de Ensino Superior a ofertar disciplinas na modalidade semipresencial, respeitando o limite de até 20% da carga horária total do curso.
Fica a cargo da instituição de ensino superior decidir se esses 20% serão ofertados em forma de disciplinas híbridas (presencial e parcialmente a distância) ou totalmente a distância, considerando a necessidade de que as avaliações
sejam presenciais (BRASIL, 2004).
Essa normatização possibilitou as práticas do Ensino Híbrido no Ensino Superior, integrando as atividades e utilizando os sistemas adaptativos para conhecer o estilo cognitivo dos alunos, o que permitiu gerar relatórios de atividades
de desempenho e elaborar diferentes estruturas para ensinar mais e melhor, personalizando o ensino.
A combinação de dois ambientes de aprendizagem, a sala de aula presencial e o ambiente virtual, está complementando e agregando novos valores à educação, uma vez que o aluno pode aprender no seu ritmo, acessando os conteúdos por meio das tecnologias
de informação e comunicação, integradas, por sua vez, às atividades na sala de aula presencial.
Sobre essa “mistura” entre o ensino presencial e o virtual, Belloni (2012, p. 117) enfatiza que:
As tendências mais fortes indicam para o desenvolvimento de modelos institucionais ‘mistos’ ou ‘integrados’ por meio dos quais as instituições convencionais de ensino superior ampliarão seus efetivos e diversificarão suas ofertas, complementando suas atividades presenciais com atividades mediatizadas, no interior dos currículos e das disciplinas.
Moran (2015, p. 39) afirma que “o ensinar e o aprender acontecem em uma interligação simbiótica, profunda e constante entre os chamados mundo físico e digital”. Sua colaboração mostra-nos que ensinar e aprender em
espaços flexíveis e mesclados pode tornar esse processo fascinante, possibilitando a integração e a contribuição dos diferentes sistemas de ensino, promovendo a aprendizagem significativa para o aluno por meio de experiências diversas.
A expressão Ensino Híbrido vai além das definições de Blended Learning voltadas ao Ensino Superior. Estudos e experiências realizadas na Educação Básica nos Estados Unidos, na Europa e na América Latina apontam para uma educação híbrida
que, por meio das tecnologias, oportuniza a integração dos tempos e espaços. Sobre isso, Moran (2015, p. 39) nos ensina que:
Não são dois mundos ou espaços, mas um espaço estendido, uma sala de aula ampliada, que se mescla, hibridiza constantemente. Por isso a educação formal é cada vez mais blended, misturada, híbrida, porque não acontece só no espaço físico da sala de aula, mas nos múltiplos espaços do cotidiano, que incluem os digitais.
O livro Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação foi organizado pelos professores Lilian Bacich, Adolfo Tanzi Neto e Fernando de Melo Trevisani a partir das reflexões de um grupo de coordenadores e professores que realizaram
experimentações em programas desenvolvidos pelos Instituto Península e pela Fundação Lemann. Os textos colaboram para pensar o Ensino Híbrido e todas as interações propostas envolvendo os alunos, os professores, as tecnologias, a gestão, os
espaços e a cultura escolar.
É importante perceber que não basta apenas mesclar o uso das tecnologias em ambientes virtuais com atividades presenciais, o fundamental é desenvolver projetos pedagógicos com propostas de trabalho significativas, que possam integrar esses
múltiplos espaços, visando desenvolver a autonomia e a reflexão crítica de todos os envolvidos no processo.
Além do trabalho colaborativo, as tecnologias digitais oportunizaram:
construção de novas metodologias de ensino
alteração da relação professor-aluno-conteúdo
construção de redes de conhecimento
Conforme já destacado, o conceito de Ensino Híbrido avançou para além do Blended Learning e tornou-se uma possibilidade. Corroborando as ideias de Moran (2015), Bacich, Tanzi Neto e Trevisani (2015, p. 51, grifo dos autores) enfatizam
que a “expressão ensino híbrido está enraizada em uma ideia de educação híbrida, em que não existe uma forma única de aprender e na qual a aprendizagem é um processo contínuo, que ocorre de diferentes formas, em diferentes espaços”.
Pode-se destacar diferentes definições para o Ensino Híbrido, mas todas convergem para uma educação integradora, em que o papel do professor e do aluno são alterados de modo significativo em relação ao ensino tradicional,
uma vez que a integração com as tecnologias digitais favorece:
Aprendizagem ativa
Ambiente de aprendizagem colaborativo
Formação de grupos por afinidades
Desenvolvimento de habilidades específicas
Compreensão de como o aluno aprende melhor
Você deve estar se perguntando: como isso é possível?
Conheça, a seguir, propostas de Ensino Híbrido apresentadas por Horn e Staker (2015), bem como um panorama geral das diversas possibilidades de combinar tempo, espaço e diferentes metodologias no processo de ensinar e aprender.
Para visualizar o vídeo, acesse seu material digital.
Horn e Staker (2015) abordam diversas maneiras de organizar situações de aprendizagem. Os modelos rotativos combinam as vantagens da educação on-line com os benefícios da sala de aula presencial, enquanto os modelos mais
disruptivos em
relação ao sistema tradicional propõem uma nova organização para toda a escola.
Segundo os autores, os Modelos Flex, À La Carte e Virtual Enriquecido sugerem a aprendizagem on-line como o eixo condutor de todo o processo de ensino. Esses modelos são considerados disruptivos porque propõem uma nova organização metodológica
para toda a escola.
Para atuar em sociedades modernas e complexas, as instituições de ensino precisam iniciar um processo de mudança, preparando ambientes que permitam integrar estratégias de ensino com todos os recursos tecnológicos disponíveis. Porém, para
além dos recursos, é necessária a revisão do planejamento pedagógico e dos papéis de todos os envolvidos no processo.
Os modelos de Ensino Híbrido de rotação estão sustentados na sala de aula presencial e necessitam de infraestrutura adequada às novas relações de ensino-aprendizagem e formação de pessoas e equipes para atuar em projetos inovadores.
Os modelos disruptivos, com foco no ensino on-line, exigem transformações em todo o sistema, alterando fundamentalmente o papel das escolas tradicionais. Os mais disruptivos são: Flex, À La Carte, Virtual Enriquecido e Rotação Individual.
Segundo pesquisas divulgadas pelo Instituto Christensen (2013), os modelos mais disruptivos estão posicionados para transformar o modelo de sala de aula, de modo que sejam os motores da mudança a longo prazo nas escolas.
Conforme Silva e Camargo apud Bacich, Tanzi Neto e Trevisani (2015, p. 182), “apesar de entender que o blended é uma possibilidade disruptiva de implementação de ensino mais adequado ao contexto sociocultural atual e em franca
expansão, ele não necessariamente precisa ser aplicado em sua plenitude”. Os autores entendem que a preocupação e a necessidade de mudança podem estimular uma nova visão sobre as práticas educativas, seja na instituição como um todo, em
uma disciplina ou em uma aula.
A implantação da proposta de Ensino Híbrido nas escolas exige:
Reflexão sobre a realidade
Plano de ensino condizente com o modelo
Envolvimento da direção e coordenação
Criação de novos projetos
Engajamento de alunos e professores nos projetos
Confira uma animação que, de forma ilustrada e muito didática, mostra os desafios e os caminhos possíveis para se pensar uma educação híbrida.
Conheça o Porvir, uma iniciativa de comunicação e mobilização social que mapeia, produz, difunde e compartilha referências sobre inovações educacionais para inspirar melhorias na qualidade da educação brasileira e incentivar a mídia e a sociedade
a compreender e demandar inovações educacionais.
O Projeto Âncora atua desde 2012 como uma escola de ensino fundamental com uma inovadora filosofia educacional, inspirada na Escola da Ponte de Portugal, implantando um modelo organizacional de gestão democrática e uma reorganização das estruturas
educativas tradicionais.
Diante dos modelos estudados, da realidade escolar brasileira, dos avanços impulsionados pelas tecnologias nos processos de ensino-aprendizagem e das possibilidades de implantar um sistema híbrido de ensino, o que você considera ideal para
que todos possam participar e contribuir para uma aprendizagem significativa?
Para visualizar o vídeo, acesse seu material digital.
BACHIC, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (Orgs.). Ensino Híbrido: personalização e Tecnologia na Educação. Porto Alegre: Penso, 2015.
BELLONI, M. L. Educação a distância. Campinas: Autores Associados, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. Portaria nº 4.059, de 10 de dezembro de 2004. Disponível em: https://bit.ly/1buyjs9. Acesso em: 30 ago. 2017.
CHRISTENSEN, C.; HORN, M.; STAKER, H. Ensino Híbrido: uma Inovação Disruptiva? Uma introdução à teoria dos híbridos. 2013. Disponível em: https://bit.ly/1NWQ41m.
Acesso em: 20 ago. 2017.
HORN, M. B.; STAKER, H. Blended: usando a inovação disruptiva para aprimorar a educação. Tradução: Maria Cristina Gularte Monteiro. Porto Alegre: Penso, 2015.
INSTITUTO CHRISTENSEN. Disponível em: https://bit.ly/2X70lCp. Acesso em: 24 out. 2017.
MORAN, J. Educação Híbrida: um conceito-chave para a educação hoje. In: BACICH, L.; TANZI NETO, A.; TREVISANI, F. M. (Orgs.). Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. p. 27-45.
PORVIR. Ensino Híbrido ou Blended Learning. 2013. Disponível em: http://porvir.org/. Acesso em: 22 out. 2017.