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Você sabe como a Libras surgiu na educação de surdos? Nesta webaula, você compreenderá o processo histórico da educação de surdos no mundo e no Brasil.
Ao longo do tempo, muitas alterações ocorreram na forma de tratar as pessoas surdas, inclusive do ponto de vista jurídico.
Os egípcios conferiam um ar de misticismo aos surdos, pois acreditavam que, por sua forma peculiar de se comunicar, eles eram capazes de transmitir mensagens dos deuses ao faraó.
Os gregos, por atribuírem grande valor à perfeição física e à oratória, condenavam os surdos à morte, uma vez que eles não atendiam aos padrões exigidos na época.
Sem direito à vida em sociedade, a morte também era o destino das crianças surdas nascidas na Roma Antiga, quando eram lançadas ao rio Tibre.
O Código de Justiniano, no século VI, promulgou que somente os surdos que falassem (oralmente) poderiam herdar fortunas, unir-se em matrimônio e ter propriedades.
Até a Idade Média, as pessoas surdas vivenciaram uma fase de exclusão, eram consideradas ineducáveis e incapazes de exercer um ofício, vivendo à margem da sociedade, muitas vezes em condições sub-humanas.
Com a ascensão da Igreja Católica, a pessoa surda deixou de ser vista como sub-humana e passou a ser defendida pela Igreja como um ser dotado de alma. Seus cuidadores eram vistos como pessoas tolerantes e caridosas, surgindo, assim, a
perspectiva “assistencialista”. Porém, a acolhida dessas pessoas pela igreja não foi sem interesse, visto que ela detinha o direito sobre todos os bens e a herança dos surdos.
Segundo Carvalho (2007), em 700 d.C., o arcebispo John Berveley se interessou pela esperteza de um rapaz surdo e se propôs a ensiná-lo a ler e escrever. Com o êxito da educação do rapaz, as pessoas ficaram impressionadas, passando
a considerá-lo um milagre de Deus.
Vitral em Beverley, Inglaterra
Assim que a sociedade percebeu a possibilidade de os surdos serem educados, as famílias mais abastadas começaram a investir na educação de seus filhos surdos, especialmente os primogênitos, pois assim seriam reconhecidos por lei e poderiam
herdar os bens da família. Esse primeiro modelo de educação de surdos ainda era feito de forma individual, ministrado por preceptores, em sua grande parte clérigos.
Nessa primeira fase, segundo Goldfeld (1997), foram criadas diferentes metodologias de ensino para os surdos, algumas fundamentadas na leitura e escrita, outras fundamentadas no ensino por meio de sinais e, ainda, aquelas que admitiram
apenas a oralidade como método de ensino.
Esses educadores espanhóis investiram no uso de sinais e foram os primeiros a explorar o alfabeto manual (datilologia) como recurso didático e comunicativo (CARVALHO, 2007). De acordo com Reily (2004), os primeiros sinais, incluindo o
alfabeto manual para o ensino de surdos, foram inspirados nos sinais utilizados pelos monges beneditinos que viviam sob o voto de silêncio.
Alfabeto manual de Libras
O alfabeto manual foi utilizado por diversos educadores na tentativa de encontrar o melhor método de ensino para surdos e visando atender à oralização dos surdos, de modo que essas pessoas fossem reconhecidas pela lei da época.
Alguns profissionais começaram a se distanciar do método visual (como ficou reconhecido o ensino por meio dos sinais) em defesa do método oral (cuja base estava centrada na busca da normalização do surdo por intermédio do ensino da fala
oral). O médico suíço Johann Konrad Amman era contra os sinais e defendia, inclusive, que seu uso atrofiava a mente para o desenvolvimento da fala oral.
Amman viveu no século XVII, mas, de acordo com Moura (2000, p. 20), esse ainda é um argumento frequentemente usado nos discursos oralistas atuais, utilizados para coibir o uso da língua de sinais, ainda que sem nenhum respaldo
científico.
A figura mais representativa do método visual foi certamente o abade francês Charles-Michel de L'Épée (1712-1789), cuja contribuição ímpar propiciou a transição do modelo de ensino individual, restrito a filhos de nobres, para o ensino
coletivo e público por meio da língua de sinais francesa.
Charles-Michel de L'Épée
A primeira escola para surdos do Brasil, atualmente conhecida como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), foi fundada no Rio de Janeiro, em 1857, pelo surdo francês Édouard Huet. Em decorrência da origem francesa de Huet, a língua
de sinais francesa se misturou às línguas de sinais utilizadas pelos surdos brasileiros da época e deu origem à língua brasileira de sinais (CHOI et al., 2011, p. 13).
Com o advento da tecnologia eletroacústica, especialmente com a produção dos Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI), capazes de amplificar o som e aproveitar o resíduo auditivo daqueles que tinham uma perda auditiva
menor, os defensores do método oral se fortaleceram, mas o que acontecia é que gastavam muito tempo para ensinar o surdo a falar oralmente quando nem todos os surdos, mesmo com a contribuição do AASI, seriam beneficiados por
essa abordagem de ensino. Nesse tempo depositado ao ensino da fala, o ensino da leitura e da escrita, bem como dos conteúdos escolares, eram relegados a segundo plano.
No decorrer do tempo, diante do fracasso oralista com relação ao desenvolvimento pedagógico e da linguagem, houve o resgate dos sinais realizado por meio de uma abordagem de ensino denominada Comunicação Total, cuja proposta se baseava
no uso de sinais, escrita, pantomima (mímica), alfabeto digital e fala oral.
A Comunicação Total emergiu ao mesmo tempo em que a língua de sinais foi resgatada pela comunidade científica. Assim como o oralismo, ela também não obteve êxito na escolarização de surdos, mas contribuiu para que o uso dos sinais
fosse retomado no espaço formal de ensino.
Assim, na década de 1980, os surdos se uniram para reivindicar o respeito aos seus direitos, em especial o direito de serem educados na língua de sinais. Esse movimento sensibilizou alguns educadores da área e, com isso, emergiu uma
nova proposta de ensino para surdos: o bilinguismo.
O bilinguismo é uma abordagem educacional norteada por duas línguas, sendo a língua de sinais considerada a primeira língua dos surdos e a língua majoritária, de preferência na modalidade escrita, a segunda.
O reconhecimento da Libras no ordenamento jurídico do país ocorreu por meio da Lei nº 10.436, em 2002, e sua regulamentação foi determinada no Decreto nº 5.626, em 2005. Essa conquista foi resultado de vários movimentos das comunidades
surdas em prol do reconhecimento da condição bilíngue dos surdos nos mais diversos espaços, especialmente, na escola.
A partir de uma abordagem de ensino bilíngue, um novo cenário tem se desenhado na educação de surdos, tornando possível que eles alcancem graus acadêmicos mais elevados e desenvolvam pesquisas sobre a surdez e a língua de sinais.
Fonte: iStock.