Nesta webaula, falaremos sobre a arte como herança e transformação da história cultural e artística do Brasil.
Os primeiros registros relacionados ao ensino da arte no Brasil são datados, aproximadamente, de 1549 a 1808, período em que a educação estava voltada para os nobres e sob a responsabilidade de grupos religiosos, principalmente
os jesuítas. Foi apenas por volta de 1808, por meio das reformas do Marquês de Pombal, que a educação jesuítica perdeu sua força. Esse momento pedia uma reestruturação cultural no país, que ficou marcada pela vinda da Missão
Artística Francesa para o Brasil, ação de D. João VI, com o objetivo de “reformular os padrões estéticos vigentes” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 42).
Contudo, os brancos também precisavam de mão de obra e, para tanto, escravizaram os índios, principalmente, para o trabalho com o cultivo da cana-de-açúcar.
Mesmo diante de fortes influencias, foram os indígenas que marcaram o início da nossa história artística e cultural. Através do cultivo de plantas, ervas, medicinais, frutas, raizes entre diversos alimentos marcaram o inicio da agricultura e dominio de várias técnicas, entre elas as artesanais e com a chegada dos europeus, os hábitos foram se misturando.
Assim, a formação cultural do povo brasileiro tem início com as influências europeias por meio da catequização jesuítica e, também, pela exploração dos indígenas. Diante da necessidade
de ampliar a sua mão de obra, os europeus passaram a trazer escravos africanos e, assim, mais uma cultura foi incorporada ao nosso povo.
A missão Artística Francesa chegou ao Brasil, chefiada por Joachim Lebreton (1760-1819), como um grupo de artistas importados da França, no ano de 1816, encarregados de substituir a concepção popular de arte, assim como o barroco brasileiro pelo neoclassicismo, com enfoque nos desenhos, na pintura, na escultura e na moda europeia. A seguir, conheça os dois principais artistas dessa missão.
Pintor francês de grande destaque na corte de Napoleão Bonaparte e considerado um dos mais importantes da Missão Francesa. Ficou no Brasil por cinco anos e retratou paisagens do Rio de Janeiro (MARTINS; SILVEIRA, 2011).
Conhecido como "a alma da Missão Francesa", foi desenhista, aquarelista, pintor cenográfico, decorador, professor de pintura e organizador da primeira exposição de arte no Brasil (1829). Em 1818 trabalhou no projeto
de ornamentação da cidade do Rio de Janeiro para os festejos da aclamação de D.João VI como rei de Portugal, Brasil e Algarve. Mas foi em Viagem pitoresca ao Brasil, coleção composta de três volumes
com um total de 150 ilustrações, que ele retratou e descreveu a sociedade brasileira. Seus temas preferidos são a nobreza e as cenas do cotidiano brasileiro e suas obras nos dão uma excelente ideia da sociedade
brasileira do século XIX (MARTINS; SILVEIRA, 2011).
Foi com a vinda da Missão Artística Francesa ao Brasil que, em 1816, foi criada a Escola Real das Ciências, Artes e Ofício do Rio de Janeiro, que, após dez anos, foi transformada em Imperial Academia e Escola de Belas Artes. Ela foi a instituição oficial do ensino da arte no Brasil, porém, ainda com orientações de institutos similares na Europa.
Os artistas responsáveis pelo ensino nessa instituição eram nomeados e seguiam os modelos artísticos europeus – a arte neoclássica – “valorizando categorias como harmonia, o equilíbrio e o domínio de materiais” (FERRAZ; FUSARI, 2009, p. 42).
No final do século XIX, o Brasil recebeu milhões de imigrantes que sonhavam em conseguir emprego e terras para o cultivo, de forma que pudessem assegurar o futuro dos filhos. A maior parte desses imigrantes veio da Alemanha, da Itália, de Portugal e da Espanha, fixando-se, principalmente, em São Paulo e no Sul do país. Eles trabalhavam nas plantações de café e acabaram ocupando o lugar dos mestiços e escravos libertos, como mão de obra assalariada. (RIBEIRO, 1995).
A junção das populações indígena, africana, europeia e asiática foram dando origem à formação cultural do povo brasileiro.
Os negros chegaram ao Brasil escravizados pelos europeus e eram trazidos de diferentes lugares, como Sudão, Costa do Marfim, Nigéria, Angola e Moçambique. Com eles vieram suas culturas, seus hábitos e costumes. Os negros que aqui chegavam eram escravizados, batizados e distanciados dos laços familiares e culturais.
Os homens precisavam atuar também como reprodutores e as mulheres mais bonitas, eram escolhidas para serem concubinas e domésticas, por vezes castigadas pelas esposas dos senhores. As escravas na casa do senhor cumpriam as tarefas domésticas que seriam destinadas a uma mãe de família, como cozinhar, limpar a casa e cuidar dos filhos. (FREYRE, 2003). Com a mistura de culturas e motivados pelo contexto de escravidão da época, os negros deram origem a novos modos de falar, andar e comer. Ao aproveitarem sobras de alimentos, deram origem à feijoada, à farofa, ao quibebe e ao vatapá, por exemplo (FREYRE, 2003). Após a abolição da escravatura, os negros ficaram sem terras para cultivo e, assim, a maior parte deles se concentrou na periferia das cidades (RIBEIRO, 1995).
As matrizes culturais brasileiras se relacionam e, comumente, encontramos manifestações artísticas e culturais que revelam essa mistura. A arte nos auxilia com a construção do conhecimento e podemos perceber que o Brasil apresenta um diversidade muito grande através do modo com as pessoas falam, alimentam-se e manifestam suas crenças e seus valores.
Podemos perceber as influências culturais no artesanato, no folclore, na dança e na música que ouvimos do norte ao sul do país. São influências africanas, indígenas, europeias, asiáticas e americanas que formam um povo com uma das culturas mais diversificadas do mundo. A seguir, conheça as influências africanas, indígenas e europeias no Brasil.
Influências na música, dança, alimentação, crenças. Arte que revela a simbologia africana por meio de pintura corporal, adornos, produção de máscaras com significado místico, iconografia baseada na arte étnica.
A escultura em madeira é uma grande influência. Esculturas de animais, atributos às divindades e objetos do cotidiano. A pintura e o artesanato influenciados pela matriz africana revelam um colorido, por vezes
geométrico, outras, figurativo. A música e a dança se misturam. Várias manifestações brasileiras apresentam características dessa matriz nos instrumentos, no ritmo, no som e na expressão corporal.
Influência na música, na dança, na alimentação, na língua, nas crenças, no artesanato e na medicina natural. A arte revela os trançados, a simbologia com características de diferentes tribos. Essa matriz influencia o trabalho artesanal com plumas e elementos da natureza, como sementes e fibras naturais. Lendas e tradições com influência indígena também fazem parte da cultura brasileira, bem como a busca por medicina alternativa, utilizando-se dos mais diversos elementos naturais. A simbologia indígena é muito forte. A arte, normalmente utilitária, apresenta características que envolvem, ao mesmo tempo, beleza e objetividade.
Influência na música, na alimentação, na religião, na língua, no artesanato, na cultura erudita. A arte revela características marcantes das artes clássicas (renascimento, maneirismo, barroco, rococó e neoclassicismo). Na música, as tradições portuguesas, italianas, alemãs e francesas corroboraram com o desenvolvimento de diversas danças e festas que podem ser encontradas de Norte a Sul do país. A arquitetura também recebeu grande influência, por meio da exuberância das talhas enriquecidas por detalhes feitos em ouro e, principalmente, do uso de beiras e sobrados que permanecem até os dias atuais. O artesanato é marcado, principalmente, pelas rendas e porcelanas.
Assim, o conhecimento sobre a história da arte no Brasil e as relações existentes com a cultura indígena e africana são muito importantes para que os alunos compreendam a diversidade presente na formação cultural brasileira.