0%

Você sabia que seu material didático é interativo e multimídia? 
Ele possibilita diversas formas de interação com o conteúdo, a qualquer hora e de qualquer lugar. Mas na versão impressa, alguns conteúdos interativos são perdidos, por isso, fique atento! Sempre que possível, opte pela versão digital. Bons estudos! 


Nesta disciplina, você já compreendeu que a história da educação de surdos está ligada a três principais abordagens de ensino: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. Nesta webaula, detalharemos cada uma dessas abordagens, pois é importante que haja clareza no delineamento da prática pedagógica.

Oralismo

Fundamenta-se no ensino da fala oral, no treino da leitura orofacial (ou leitura labial) e no uso de Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI) ou do Implante Coclear (IC). A visão inscrita nesse contexto social oralista reproduz e naturaliza expressões como:

“deficiente auditivo (DA)”

“tratar a deficiência auditiva”

“reabilitar o deficiente auditivo ou paciente”

O que defendem os oralistas?

Além da proibição do uso de sinais, Poker (2008) afirma que os oralistas acreditam que seja importante respeitar as seguintes orientações:

Durante o treinamento auditivo a criança surda é estimulada a aprender a ouvir, visto que, diante de uma perda auditiva, ela não realizou esse aprendizado de forma natural, tal como ocorre com seus pares ouvintes. 
Assim, as terapias fonoaudiológicas podem intervir com o estímulo à:

consciência auditiva

atenção auditiva

localização auditiva

identificação auditiva

discriminação auditiva

memória auditiva (e sequencial) e evocação

Leitura orofacial (LOF)

O conceito de leitura orofacial é mais amplo que o de leitura labial, cuja representação está associada a uma atenção dedicada apenas à articulação dos lábios. A LOF entende que a leitura dos lábios é uma das habilidades comunicativas que o surdo deve apresentar, mas que as expressões faciais, tais como o olhar e o movimento da cabeça, são fundamentais para se conseguir interpretar adequadamente entonações e sentidos contidos na mensagem verbalizada, como ironia e sarcasmo (KOZLOWSKI, 1997).

O oralismo é, portanto, uma abordagem educacional com base no ensino da fala oral e no aproveitamento do resíduo auditivo dos surdos, por meio do AASI ou do implante coclear.

Pessoas com perda auditiva leve ou moderada tendem a apresentar ótimos resultados na aquisição da língua oral sob os pressupostos oralistas. Entretanto, o êxito é menor entre aqueles com perda auditiva mais grave. Assim, é preciso ter cautela e não generalizar os resultados da abordagem oralista.

Comunicação Total

Segundo Ciccone (1990), reconhecendo a insuficiência e a rigidez do Oralismo no atendimento às necessidades da criança surda, surgiu na década de 1960 a Comunicação Total.

Conforme Paccini (2007), a Comunicação Total foi considerada no Brasil não apenas uma metodologia, mas, sobretudo, uma filosofia educacional, apoiada em:

• língua falada oralmente

• alfabeto manual

• sinais

• imagens

• apontamentos

• língua escrita

A Comunicação Total não visava ao desenvolvimento linguístico, mas, sim, à comunicação, à interação, ao desenvolvimento afetivo e cognitivo do surdo (CICCONE, 1990). No entanto, a expressão da fala oral concomitante ao uso dos sinais produziu o que muitos denominaram “bimodalismo” ou “português sinalizado”.

Bimodalismo

A prática da fala oral acompanhada de sinais desconsidera e desrespeita as especificidades da estrutura da língua de sinais, que não ocorre sob a mesma organização da fala oral. Os sinais dentro dessa prática tornam-se um amontoado de palavras sem uma estrutura clara e bem definida, usados simplesmente de forma complementar para apoiar a oralidade e/ou a escrita.

Bilinguismo

Em oposição à Comunicação Total, o Bilinguismo no Brasil defende o uso da Libras de forma autônoma, ou seja, respeitando o fato de que a estrutura linguística da Libras se organiza de forma diferente da língua portuguesa. A abordagem de ensino bilíngue considera:

Libras: 
primeira língua dos surdos

Fonte: iStock.

Língua portuguesa (oral e escrita): 
segunda língua dos surdos

Fonte: iStock.

O bilinguismo envolve muito além da presença de duas línguas no contexto educacional de aprendizes surdos, pois defende que o surdo é um sujeito bilíngue e bicultural, com especificidades linguísticas, culturais e identitárias. Nessa direção, apoia o contato e a comunicação precoce de crianças surdas com pares e adultos também surdos, com os quais podem compartilhar vivências e experiências visuais de mundo por meio da língua que lhes é natural: a Libras (QUADROS, 1997).

Legislação

Vamos agora compreender como a legislação vigente respalda a abordagem de ensino bilíngue.

A Lei nº 10.436/2002 e o Decreto nº 5.626/2005 determinam a obrigatoriedade da disciplina de Libras em cursos de Educação Especial, Licenciatura e Fonoaudiologia (e como optativa nos demais cursos de graduação).

O Plano Nacional de Educação, regulamentado pela Lei nº 13.005/2014, estabeleceu como meta uma educação bilíngue para surdos promovida por professores de Libras (prioritariamente surdos) e professores bilíngues (que ministram as demais disciplinas curriculares em Libras e na modalidade escrita da língua portuguesa).

Antes de finalizar esta webaula, deve ficar claro que, ao realizar a escolha lexical entre “deficiente auditivo” e “surdo”, você está implicitamente se posicionando entre uma ou outra abordagem de ensino. Geralmente, os sujeitos educados dentro da abordagem oralista identificam-se com a expressão "deficiente auditivo", enquanto aqueles que cresceram sob a influência da língua de sinais costumam se reconhecer como "surdos". Na dúvida, lembre-se de que os surdos, usuários da Libras, em sua grande maioria, preferem ser chamados de surdos, e não de deficientes.

Bons estudos!

AVALIE ESTE MATERIAL

OBRIGADO PELO SEU FEEDBACK!