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Aspectos biológicos da surdez

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No contexto da surdez, além da abordagem educacional, uma série de fatores pode influenciar a decisão pela comunicação oral ou bilíngue. Nesta webaula, vamos apresentar sucintamente alguns desses fatores, para que você possa compreender de maneira mais contextualizada aspectos biológicos da surdez. 

Fonte: iStock.

Cerca de 90% a 95% dos diagnósticos de perda auditiva ocorrem em lares de ouvintes, ou seja, contextos em que as famílias têm pouco ou nenhum conhecimento sobre a surdez (SACKS, 1998; REILY, 2004).

A expectativa de muitos familiares de crianças surdas, assim como de grande parte da sociedade, é a de "normalização" do sujeito surdo, ou seja, de que ele venha a se comunicar oralmente pela fala, leitura orofacial e/ou aproveitamento do resíduo auditivo. Por esse motivo, os familiares se sentem motivados pelos casos de sucesso com a abordagem oralista, mas, conforme já estudamos, ela não é adequada a todas as pessoas.

Fonte: iStock.

Primeiramente, é preciso compreender que existem diferentes graus de perda auditiva, os quais podem ser aferidos por meio de exames audiológicos, como a audiometria. Os resultados revelam os limiares auditivos do sujeito, mas sua interpretação pode variar de autor para autor. 

De acordo com Kumada (2008), os critérios de normalidade auditiva oscilam sob diversas classificações, mas geralmente estão nos níveis de 15 a 25 dB NA (decibel nível de audição).

Fonte: iStock.

Classificação do grau e tipo de perda auditiva

Segundo a classificação divulgada pelo MEC (BRASIL, 1997), com base na classificação do Bureau Internacional d’Audiophonologie (BIAP) e na Portaria Interministerial nº 186, de 10 de março de 1978, é possível identificar diferentes graus de surdez:

Até 40 dB

A surdez leve dificulta a percepção igual de todos os fonemas da palavra. Geralmente o sujeito é considerado desatento e solicita, constantemente, repetições do que lhe é falado. Apesar de não impedir a aquisição normal da linguagem, pode apresentar problemas articulatórios ou, até mesmo, dificuldades na leitura e/ou escrita.

41 a 70 dB

Exige uma voz com maior intensidade para ser efetivamente percebida. Frequentemente causa atraso na linguagem, alterações articulatórias e, em alguns casos, maiores problemas linguísticos.

71 a 90 dB

Esse indivíduo pode chegar até quatro ou cinco anos sem falar oralmente, identificando alguns ruídos familiares e voz forte. Com intensa estimulação a criança pode adquirir linguagem oral.

Acima de 90 dB

Não identifica e/ou percebe a voz, impedindo-o de adquirir naturalmente a linguagem oral.

Como já destacado, essa é apenas uma das classificações mais comuns, por isso as nomenclaturas e os limiares podem variar. Vamos agora exemplificar comparando dois exemplos de surdez:

Surdo leve e surdo profundo

O sujeito com perda auditiva leve geralmente não escuta sons mais agudos e de menor intensidade, como o balançar das folhas na árvore, o vento ou uma torneira pingando. Entretanto, ele não apresenta dificuldades para ouvir o som da fala humana, por isso normalmente pode ser oralizado sem grandes dificuldades.

No outro extremo, o surdo profundo não consegue ouvir o telefone tocando ou o ladrar do cão, tampouco os sons da fala humana. Apesar disso, ele poderá ouvir sons mais graves e intensos, como o de um trovão, da turbina do avião ou de uma bomba.

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Para compreendermos os tipos de perda auditiva, precisamos primeiramente nos familiarizar minimamente com a anatomia do ouvido humano, já que os tipos de surdez estão diretamente relacionados à localização topográfica do acometimento. 

Anatomia do ouvido humano

A ilustração apresenta a orelha externa, a orelha média e a orelha interna. A orelha externa é formada pelo pavilhão auricular, meato auditivo externo e tímpano. Na orelha média, vemos a caixa do tímpano e os ossículos da orelha, chamados de martelo, bigorna e estribo. Na orelha interna, onde os estímulos sonoros são transmitidos ao cérebro, vemos os canais semicirculares, o nervo vestibular, o nervo acústico e a cóclea.
Fonte: acervo Kroton.

Na imagem, podemos observar a orelha externa, a orelha média e a orelha interna. A orelha externa é formada pelo pavilhão auricular, meato auditivo externo e tímpano. A porção da orelha média, por sua vez, é formada pela caixa do tímpano e pelos ossículos da orelha, chamados de martelo, bigorna e estribo. Por fim, na orelha interna, onde os estímulos sonoros são transmitidos ao cérebro, vemos os canais semicirculares, o nervo vestibular, o nervo acústico e a cóclea.

A partir dessa breve introdução você já é capaz de compreender os tipos de perdas auditivas:

Ocorre na orelha externa e/ou média e, como o próprio nome sugere, compromete a condução (ou transmissão) do som para a orelha interna. Conforme Lombardi (2000), por meio de intervenção cirúrgica e/ou de medicamentos essa perda pode ser temporária e reversível.

Está localizada na orelha interna, no órgão de Corti ou nas fibras do nervo auditivo, e seus danos são permanentes e irreversíveis.

Quando a alteração ocorre tanto nas orelhas externa e/ou média como na orelha interna ela recebe o nome de perda auditiva mista.

Existe a possibilidade de o sujeito ter uma sensibilidade auditiva normal, mas ainda assim não compreender os sons da fala, pois possui uma alteração localizada a partir do tronco cerebral até as regiões subcorticais e córtex cerebral. Para esses casos dá-se o nome de perda central.

É importante destacar que a contribuição do aparelho de amplificação sonora individual (AASI) é limitada e depende do tipo e grau de perda auditiva, sendo seu uso mais recomendado nas situações de perdas de tipo mistas e neurossensoriais, uma vez que as perdas condutivas têm chance de serem revertidas por meio de medicamentos e cirurgias.

Além do grau e do tipo de perda auditiva, outras variáveis integram a diversidade da surdez. Existem surdos unilaterais e bilaterais, além de surdos pré-linguísticos e pós-linguísticos. Todas essas variáveis implicam diferenciações na forma como esses sujeitos vão se comunicar.

A predisposição para uma abordagem bilíngue também ocorrerá nos contextos de surdos filhos de pais surdos, ou seja, quando a Libras será naturalmente a primeira língua com a qual essas crianças terão contato, por ser a língua de seus pais.

Dado esse panorama, você pode notar como não está simplesmente na vontade da família, dos profissionais ou da criança surda ser um surdo oralizado ou bilíngue. Assim, além da abordagem educacional, muitos fatores podem influenciar a predileção dos surdos pela comunicação oral ou bilíngue: o tipo e grau de surdez, o ganho do AASI, a contribuição do implante coclear, a criação em família ouvinte ou surda, o período em que houve a perda auditiva (pré ou pós-linguística) e se é uma perda unilateral ou bilateral.

Bons estudos!

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